Este texto é um velho conhecido de alguns amigos. E resolvi publicá-lo aqui por 2 motivos: porque preciso desesperadamente de material para alimentar o blog - risos - e, muito mais nobre, porque foi uma das experiências mais bonitas de minha vida! Compartilho-a:
Numa bela tarde de primavera, caminhando sozinha por ruas de um lugar desconhecido, vi uma pessoa dar um esbarrão num cego e corri para ajudá-lo. Ele me agradeceu – estava batendo a bengala numa árvore, um pouco desequilibrado - e perguntou de onde eu era, pois tinha um sotaque diferente. Perguntou, ainda, se eu estava perdida e se precisava de ajuda. Eu disse que não, pois, pelo mapa, sabia que faltavam apenas algumas quadras para chegar ao meu destino. Ele se ofereceu para me acompanhar, uma vez que morava a uma quadra de onde eu queria ir e conhecia o bairro há quase 60 anos. Segurou a bengala na outra mão e me deu o braço, como um pai. E, sem enxergar nada, me dizia: "você vê aquela casa verde do outro lado da rua? É a casa mais antiga do bairro. Aquela branca da esquina? É a melhor padaria da região". Me contou que sua esposa lhe ensinara tudo, sempre que caminhavam. Agora, obviamente, já sabia tudo de cor. "Cuidado aqui, mocinha... Este cruzamento é um pouco perigoso". Até para atravessar a rua ele me ajudou. E eu fui vendo a cidade pelos olhos de um cego, com cores, formas e direções... E sendo guiada por ele... Ele dava aulas de música para crianças e pegava o metrô todos os dias bem cedinho para chegar à escola às 7h. E retornava naquele horário que nos encontramos (entre 2h e 3h da tarde). Era uma pessoa feliz e me proporcionou uma das experiências mais bonitas de minha vida... E, quando chegamos ao seu prédio, ele me agradeceu pela companhia. Deu um beijo em minha testa e disse "Deus te abençoe". Mas Deus já tinha me abençoado.
Aprendi que cegos somos nós - que podemos, mas, muitas vezes, não queremos ver.
Ocorrido em Maio de 2004.
3 comentários:
Esse seu texto é lindissimo!!!!!!!
Ah, que bom que você gosta... Eu também gosto muito dele e isso aconteceu comigo umas duas semanas antes de eu te conhecer, sabia? Sempre que me lembro desse dia, me emociono.
Ano passado eu passei por lá novamente. Queria encontrar esse senhor mais uma vez... Mas, infelizmente, os prédios do bairro são muito parecidos e não me lembro em qual ele morava :(
Beijo
Amo esse texto...de verdade!
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